domingo, 24 de novembro de 2013

LUNGUÉ-BUNGO - A ILHA

-TESTEMUNHO-
No leste da então "Província Ultramarina de Angola", muito perto daquele quadrado que entrava pela antiga Zâmbia, corria e corre o rio Lungué-Bungo, nome também atribuído ao local onde passámos alguns meses, na parte final da nossa comissão de serviço.
O RIO LUNGUÉ-BUNGO
A PONTE RIO LUNGUÉ-BUNGO

No meio deste rio existia uma ilha arborizada e com alguma dimensão, onde boa parte dos graduados da nossa companhia, quando não estavam de serviço no aquartelamento, ou em missões de protecção próxima aos trabalhos de construção da estrada Luso/Gago Coutinho, na protecção afastada em operações de reconhecimento e patrulhamento naquela zona, passavam uma boa parte do dia. 

A ILHA COM O SEU PADRÃO

Também naquele rio, na sua praia, tomávamos as nossas banhocas, fazíamos sky aquático (com a colaboração dos nossos amigos fuzileiros, também ali aquartelados) e lavávamos a roupa muito suada e empoeirada que assim ficava, após as deslocações que efectuávamos nas picadas do leste de Angola.

JM DESLIZANDO SOBRE AS ÁGUAS

BELAS BANHOCAS

Ah! Já me esquecia dos saltos do cimo da ponte para a água, que o Zé e eu próprio, fazíamos com outros camaradas, mas poucos e onde se assinalava os 9 669 KM, que nos separava de Lisboa. Ah! Que bela idade! Que bons momentos!

A DISTÂNCIA

Bom! Deixemos estas recordações lamechas  e voltemos à nossa ilha. A jusante da ponte estava aquartelado o Destacamento 11 dos Fuzileiros Navais, com quem tínhamos muito boas relações de vizinhança e camaradagem. 


AQUARTELAMENTO FUSOS

Quando já estávamos fartos das nossas banhocas e à boa maneira portuguesa, lá vinha o "petisco" e o convívio. Para além do velho frango assado, com muita cerveja fresquinha na tenda do "Fonseca", servido em mesa corrida e para mudar de ambiente viajávamos até à nossa ilha, navegando até lá nos zebros dos nossos camaradas e vizinhos fusos. Eram eles que, também, muitas vezes nos desafiavam para a viagem rumo ao "petisco".


NA TENDA DO FONSECA

  A VIAGEM 

Após sabermos quem queria ir ao "petisco" na ilha, graduados da nossa companhia e dos fusos, começavam a preparar a logística não só do transporte, mas também de tudo o que podia servir para o repasto. Ah! Não podia faltar a couve branca, para o chucrute do nosso primeiro, assim como a lata de chouriços vazia, para fabricarmos o "catembe". Para quem não sabe o que é o "catembe", passo a informar ser uma mistura muito explosiva de tudo o que à mão podia servir para beber, com excepção da água que provocava o paludismo. Desde a cerveja, vinho, seven up, brandy whisky, etc., etc..Tudo era despejado na lata de chouriços, que durante o repasto, passava de mão em mão para uma "golada". Admitimos que a principal bebida era a cerveja. Por vezes conforme os ingredientes também se lhe dava o nome de "tricofaite".


  O PETISCO

O PETISCO E A LATA DO CATEMBE

Para além das nossas conversas, recordando coisas passadas na metrópole, acompanhava-nos sempre a seguinte frase: "quando isto acabar  e quando chegar ao Puto, o que vou logo fazer é..."
Bons momentos passámos naquela ilha, comendo, bebendo, conversando, ouvindo música, descansando fisicamente  e espiritualmente, reparando o nosso stress, porque no dia seguinte "nunca se sabe!"

O DESCANSO

Bom! Quando o dia já se queria esconder no horizonte, chega a hora de abandonar a ilha e regressarmos aos nossos aquartelamentos. 
Pois! Nesta fase do petisco, muitos de nós estavam alegres e outros estavam muito , muito alegres. O regresso até ao cais do aquartelamento dos fuzileiros, fazia-se a uma velocidade elevada, dado o "combustível" metido, só que os rápidos existentes no rio, não eram contemporizadores com essa velocidade e os fusos acabavam por chegar ao seu quartel, com as hélices todas partidas. Nunca soube como eles justificavam tantas hélices partidas.
Por fim, resta dizer que os bons momentos passados naquela ilha, nos faziam esquecer tudo o resto por que passámos e o que nos restava passar.
É sempre agradável recordar esses momentos.
JM



13 comentários:

  1. Descrição perfeita do local onde passámos bons tempos, um local que mais nos marcou pela positiva. As fotos (excelentes) documentam isso mesmo.

    É bom que fiquem estes registos, dum tempo onde tivemos a sabedoria, para disfrutar de coisas boas, em situações difíceis.

    Outros camaradas têm certamente descrições deste e doutros locais que poderiam partilhar, deixando aqui esse legado registado.

    Um abraço amigo para todos os companheiros!
    FS

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  2. Henrique de Jesus-Furriel Miliciano-CART3539-BART3881-Lungué Bungo-21/07/72-21/02/73.
    Grande prazer em ver as fotografias e a escrita publicada. Tudo muito familiar. Sobre a ilha. Não foi hábito na CART3539 fazer farras na ilha. Não sei bem porquê. O amigo, comerciante Fonseca referiu várias vezes as grandes farras que lá se tinham feito com a tropa e os fuzos. Em contrapartida, no meu tempo, era frequente a ida aos fuzos ao nosso quartel e vice-versa. Nesse tempo, 72, catembe era denominada "banheira", mais alcoólica que o descrito. Até pimenta levava. Julgo que foi o Fonseca que nos ensinou a a arte bem fazer uma boa banheira já que era na sua loja as banheiras eram consumidas. Consumidas acompanhadas pelos óptimos petiscos elaborados pela sua companheira, pessoa muito amável.
    Recordo o amigo Fonseca aos tiros para o quimbo. Como o meu quarto era muito perto da loja, passei o arame farpado e fui ver o que se passava. Um jovem, já habitual nestas andanças, tinha ido, mais uma vez, aliviar stock de mercadorias do pequeno armazém. O Fonseca estava muito alterado. Consegui maior serenidade na sua pessoa. Tudo se acalmou.
    Mas, o meu Capitão chamou-me para lhe explicar o que andava a fazer no meio dos tiros do Fonseca. Após breve e elucidativa explicação tudo voltou ao normal, possivelmente fomos beber mais uma Nocal.

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  3. Transcrevemos e publicamos na íntegra o comentário recebido a 10/01/2014

    Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem

    ola.estive no lunguebungo de 69a fins d 71no destacamento de fuzileiros especiais n-10.conheco o rio lunguebungo muito bem,pois naveguei esse rio bem acima da ponte,ate a entrada do rio zambeze.em operacoes, e patrulhamentos.alem disso,era mecanico dos famosos mercury.conheci muito bem o senhor fonseca,e ate abiei algumas cervejas ao balcao da tasca".de facto,nao foi o fonseca q mandou a mulher e a filha embora do lungue,mas foram elas q o abandonaram, porque nao aceitaram viver naquele isolamento,e condicoes pouco aceitaveis para quem estava acustumado a viver numa cidade.saltei muitas vezes daquela prancha,e ate ajudei alguns soldados q tentavam atirarem-se da prancha,e acababam pendorados acabando por largar a prancha,e nos termos q secorrelos para dentro de um dos varios botes de fibra, ou de burracha, q sempre se encotravam ancorados na margem,em frente a oficina de reparacoes.fui algumas vezes ao cinema no 'luzo',HOJE LUENA,e bebi ai muita cerveja nos bares do luena< sem pagar; pois quando saiamos do cinema,invadiamos todos um bar, e na cofuzao,nos aviavamo-nos a nos proprios.fizemos operacoes a partir do lucusse,uma de ma memoria,porque as informacoes dadas pelas chefias militares,e pela pide,nao estavam corretas,e acabamos por matar pessoas q nao tinham muito,ou nada a ver com terrorismo,depoes,lutembo,luvuei,cuitocanaval,narriquinha cacamba,cangamba gago coutinho,leua,e outros lugares q agora nao me vem a memoria.um abraco.mario marta ex.mar.fze.dfen-10

    Publicada por Anónimo a 10 de Janeiro de 2014 às 14:10

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  4. Transcrevemos na íntegra o comentário do nosso seguidor recebido a 10/01/2014

    Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem

    conheco bem o rio lunguebungo,pois prestei ai service no destacamento de fuzileiros especiais,n-10,de 69a71.naveguei muito por esse rio,pois ate era mecanico dos motores mercury.partecipei em algumas tainadas na ilha,mas nunca parti elices nas pedras.conhecia o rio como as palmas das minhas maos.um abraco.ex.mar.fze.dfen-10.no lunguebungo

    Publicada por Anónimo em C CAÇ 2505 a 10 de Janeiro de 2014 às 17:10

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  5. Por puro acaso encontrei o v/Blogue e, fiquei muito contente. Chamo-me Celso, sou antigo funcionário da TECNIL e tenho algumas fotos dessa época, gostaria de as publicar aqui, digam-me se o posso fazer. obrigado. celsopereira63@gmail.com em OPINIÕES

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  6. Foi bom recordar estas paisagens fui fuzileiro e estive nestes locais em 1969 a 1971 tendo pertençido ao 10 destacamento já à muito que procuro antigos companheiros sem resultado se alguem desse tempo me quiser contatar aqui deicho o meu mail aaa.pires@hotmail.com

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    1. PIRES..,ESTE MARMANJO OUVIU HISTORIAS E ESCREVEU...SO QUE NAO SABE O QUE DIZ.

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  7. Tudo isto , seguramente aconteceu noutro Planeta

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  8. O Ás de Espadas BCAV2899, passou pela ponte do LungueBungo / precisamente no final de 1969. Estivemos em Cangamba de 69 até rodar em 1971. Na paragem técnica que fizemos noa ponte/quartel dos FUZOS, fomos extremamente bem recebidos
    somos www.batalhaoasdeespadas.com

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  9. Fiz muitas escoltas(1968) a colunas de reabastecimento Luso-Cangamba e muitas vezes fazíamos paragem nos " Fuzos" onde sempre fomos muito bem recebidos. Uma noite que lá pernoitamos dormi no "rés-do-chão" de um banco de carpinteiro que estava lá encostado a um JC. O sono foi tão profundo que a coluna arrancou e eu fiquei a dormir. Passei uma semana vosso hóspede.

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  10. A ponte do Lungue Bungo, foi entretanto destruida na guerra MPLA/UNITA. No fim do ano passado, estava em construção a nova estrada para Cangamba. Penso que terão reconstruido a ponte. É que a certa altura aquela ponte altamente resistente, estava em madeira como recurso.!!! Por questões financeiras, os trabalhos da Estrada devem ter parado no fim de 2016 (não confirmado). Tenho imagens desses trabalhos, mas não sei para onde enviar. Jose Reis batalhao2899@gmail.com

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    1. Caro Amigo

      Grato pelo seu comentário. Não tínhamos conhecimento do que nos conta. Por agora poderá enviar as imagens, que antecipadamente agradecemos, para jotamerca@gmail.com

      Cumprimentos
      jMerca

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