SÃO OS NOSSOS VOTOS PARA TODOS OS COMBATENTES, FAMILIARES E AMIGOS DA C CAÇ 2505, COM O DESEJO DE UM FELIZ NATAL E UM ANO DE 2018, COM AS MELHORES PERSPECTIVAS PESSOAIS E FAMILIARES
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
PASSARINHOS NA MUTAMBA
-TESTEMUNHO-
Os passarinhos, ou uma noite passada entre Grafanil - Luanda
-Grafanil, com algumas peripécias pelo meio.
(Na guerra também havia diversão)
CAMPO MILITAR DO GRAFANIL, 1970 ( ARQUIVO DIGITAL GRAFANIL-LUANDA) |
Nos
aposentos dos sargentos do Grafanil, num dos quartos, o 1º sargento Fernando Reis
e o furriel miliciano Fernando Santos, jogavam uma partida de "crapô" (espécie de paciência, disputado por dois jogadores, com dois
baralhos de 52 cartas), seria muito próximo da meia noite.
Nisto entra de rampante o furriel miliciano Vitorino Rodrigues. A partida foi interrompida e o Rodrigues diz
em tom de gabarolice: "eh pá vocês nem sabem, comi uns passarinhos fritos
numa tasquinha ali próxima da Mutamba (baixa de Luanda), que nem queiram
saber!"
O 1º SARGENTO FERNANDO REIS À ESQUERDA E O
FURRIEL MILICIANO FERNANDO SANTOS À DIREITA
JOGAVAM UMA PARTIDA DE CRAPÔ
|
O 1º
Reis, para quem o conhece, sabe bem que petiscos, era com ele, diz logo:
"Vamos lá comer esses passarinhos e beber umas cervejinhas". O
Vitorino diz que não pode ser, que vai entrar de serviço de Sargento dia ao
Batalhão, às 8 horas da manhã. O Reis não desarma, secundado pelo Santos, diz:
"estás com medo de não conseguires estar aqui a horas para entrares de
serviço? Diz o Santos, "vamos lá". O Vitorino depois de alguma
insistência, responde: "então vamos". E fomos, no último
"machimbombo militar" (autocarro) da noite, que fazia a carreira
Grafanil-Luanda.
MUTAMBA ANOS 60 (TERMINAL DE TRANSPORTES) |
Chegados
à tasquinha, ali numa travessa entre a Mutamba e a Portugália, fomos
encaminhados para um reservado. Pedimos 2 cervejas cada um e uma dúzia de
passarinhos fritos (diz o Vitorino que o Santos devia estar com tanta fome que
comeu logo metade, o que eu não me recordo, nem acredito!).
Durante
o repasto, fizemos algumas viagens até à casa de banho, que ficava ali mesmo ao
lado. A dada altura, lembro-me de ter olhado para o canto da salinha e visualizei,
amontoadas dezenas de garrafas de cerveja vazias. Terminámos por volta das 5
horas da manhã, porque a tasquinha fechava a essa hora. Já bem aviados, parámos
na rua, o 1º Reis volta-se para nós e pergunta: "e agora onde
vamos?", responde de pronto o Vitorino: "vamos ao Rex", diz de
imediato o Reis: "eu não gosto de maricas!", esclarece o Santos:
"oh Reis, o Rex é um bar noturno!", então o Reis, compreensivo
concorda: "ah assim vamos lá! Vamos ao strip-tease?", o
Vitorino que tinha sempre a resposta pronta disse: "para o strip-tease, é melhor no Maxime". Passamos
pelo Rex, pelo Maxime e talvez por mais algum! (Pedi ajuda ao Furriel miliciano
João Merca e ele recordou-me mais três bares: Gôndola ( da Zé), o 007 (da Ju) e o Texas Bar ( da Manuela).
Mas o
Vitorino tinha de entrar de "Sargento Dia", pelas 8 da manhã, transportes
não havia aquela hora, mesmo que houvesse, estávamos noutra, então, iniciámos o
percurso de regresso a pé para o Grafanil: subimos até à Maria da Fonte; Avenida
dos Combatentes e tomámos o rumo da estrada de Catete, ali bem perto, fomos
encontrar uma tasca ainda aberta: encontravam-se na tasca, alguns resistentes
da noite, bebendo, conversando e discutindo. Bebemos mais umas aguardentes, que
não pagamos, porque os nossos companheiros ocasionais não nos deixaram pagar.
Tínhamos
ainda que percorrer alguns quilómetros até ao Grafanil, dois metros para a
frente, parávamos para fazer uma reunião, não sei quantas fizemos, nem me
lembro o que discutíamos. O Vitorino estragava logo as reuniões e não chegávamos
a conclusões. Dizia o Reis para ele já irritado: "'porra', por causa da
'merda' dum serviço temos de ir a correr!" O Vitorino tinha de entrar de serviço e ainda
queria conviver mais um ano connosco (a falta a um serviço no batalhão,
provavelmente, daria uma pena de prisão e transferência de companhia)! E
apressou-nos.
Chegámos
mesmo a tempo do Vitorino mudar de roupa e ir ter à parada para a rendição. O
Reis e o Santos, ainda foram tomar um banho fresco e dormiram até à hora do
jantar (almoço para quê?). Se não fosse a "porcaria" do serviço de
Sargento Dia, teríamos ido até à Ilha de Luanda, tomar um banho de mar na
praia, ver o nascer do sol ao raiar da aurora e talvez dormir na areia.
À DIREITA O VITORINO (ESTAVA DE SARGENTO DIA, MAS EM NAMBUANGONGO)
À ESQUERDA, O SANTOS E AO CENTRO O 2º SARGENTO BRAGA, "O PISTOLEIRO"
|
F. Santos - Memórias de Angola
sexta-feira, 8 de dezembro de 2017
FALECIMENTOS NO BATALHÃO
-NOTÍCIA-
Tivemos conhecimento há já algum tempo do falecimento do nosso camarada de armas João Manuel Giga Coelho, Furriel Miliciano Sapador da Companhia irmã 2504. Alentejano de trato impecável e que já em Angola deixava transparecer a sua inclinação artística.
O GIGA É O CAMARADA À NOSSA DIREITA |
Fui um dos que almoçou com ele, decorria o ano de 2011, no Café Império em Lisboa. Foi a última vez que o vi. Deixa saudade.
Também tivemos recentemente conhecimento do falecimento do Manuel Gonçalves Arvelos, Furriel Miliciano Mec/Auto, da Companhia de Comandos e Serviços do nosso Batalhão. Através do José Fernando, o nosso Furriel Miliciano Mec/Auto, convivi frequentemente com ele sempre que estivemos junto do Batalhão. Algarvio "camaradão", apresentava quase sempre um ar sério pouco falador e reservado. Almocei com ele em Julho de 2016 na Associação dos Fuzileiros no Barreiro. Foi a última vez que o vi e a sua presença, também nos deixa saudade.
O ARVELOS É O CAMARADA SENTADO À DIREITA |
Embora tardiamente não podemos deixar de noticiar estes acontecimentos. Fica aqui, a recordação dos bons momentos passados e o adeus, de todos aqueles que com eles conviveram. Aos familiares apresentamos os nossos mais sentidos pêsames.
Até um dia Giga e Arvelos!
JM
quarta-feira, 6 de dezembro de 2017
ACONTECEU NO DANGE...
-TESTEMUNHO-
Furriel - apontando para o letreiro que dizia 'Bar de Sargentos', perguntou: "Tu sabes ler?"
"O FURRIEL E O CABRITO"
Luanda já tinha
ficado para trás. Desembarcámos no porto
desta cidade no dia 21 de maio de 1969, ainda, a tempo de desfilarmos perante
as altas patentes militares e civis, no dia 10 de junho.
Mal tivemos tempo para arrumar a mala e já estávamos
na "picada". O nosso destino era o Dange, lugar onde não havia nada,
ou melhor só havia o rio e a floresta. Construímos o nosso acampamento com as
nossas próprias mãos e a ajuda duma máquina da engenharia.
CONDOMÍNIO DE LUXO NO DANGE |
Entretanto,
já tínhamos sofrido a primeira "baixa", na passagem pela fazenda
Maria Fernanda (história
que já contei noutro testemunho), depois da chegada, logo a seguir,
sofremos a segunda "baixa" (esta história está mais difícil de
narrar...). E ainda tivemos mais 4 "baixas" até final da comissão.
Mas
vamos ao que nos trouxe aqui: "O furriel e o cabrito".
Numa
das operações que realizávamos regularmente, ao passarmos por uma "lavra"
(terra de cultivo), os indígenas puseram-se em fuga, mas para trás deixaram um
cabrito que foi trazido para o acampamento e que o nosso amigo Furriel veio a adotar.
A partir daí ficaram amigos inseparáveis. Andavam pelo acampamento juntos, iam
beber água ao rio, passeavam pelas imediações. Só não dormiam juntos: o Furriel
pernoitava no barracão destinado aos sargentos e o Cabrito ficava preso nas
traseiras.
Certa
noite, já bem entrada, eis que se começou a ouvir um diálogo interessante junto
à porta do Bar de Sargentos. Era nem mais nem menos que o Furriel (já a sofrer
dos efeitos do cacimbo) e o seu inseparável amigo Cabrito:
Furriel -
"Tu não podes entrar aqui"
Cabrito -
"Méeeee..."
Furriel - "Já te disse, não podes entrar"
Cabrito -
"Méeee...."
Furriel -
"Tu não és sargento, não podes entrar"
Cabrito - "Méeee..."
BAR DOS SARGENTOS NO DANGE O MILITAR NA FOTO NÃO É O FURRIEL DESTA "ESTÓRIA" |
Furriel - apontando para o letreiro que dizia 'Bar de Sargentos', perguntou: "Tu sabes ler?"
Cabrito -
Méeee..."
Furriel -
"Ali está escrito 'Bar de Sargentos', não podes entrar"
Cabrito -
"Méeee..."
Alguém no
interior do bar disse: "oh Cristo, deixa lá entrar o Cabrito"
Furriel - "Não!
Não entra!".
E não entrou. Mas não sem que antes tivesse
respondido: "Méeeeee..."
BAR DE SARGENTOS NO DANGE |
Passados
alguns dias o Furriel foi escalonado para uma operação apeada que demorou
alguns dias (eram normalmente de 3 a 5 dias). O seu grande amigo, Cabrito, não
foi autorizado a acompanhá-lo. Deu-se então a separação, que viria a ser
definitiva: durante a ausência do Furriel, o Cabrito acabou no caldeirão e o
Furriel no seu regresso, ficou ainda mais "cacimbado" do que já
estava, infringiu os regulamentos militares, foi punido com 10 dias de prisão
disciplinar e transferido para outra companhia.
Reencontramo-nos
em Luanda quando já aguardávamos o regresso. Continuava castiço como era seu
timbre, acompanhou-nos na viagem a bordo do "Vera Cruz" até Lisboa e
seguiu o seu destino.
O nome usado é
fictício.
F Santos -
Memórias de Angola
PS - O Furriel
reside atualmente, algures, no Algarve, dedicou-se à agricultura e segundo
testemunhos recentes, ainda não se curou do "cacimbo".
FS
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