-TESTEMUNHO-
Incidente que poderia ter comprometido o regresso do Vagomestre
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MUTAMBA 1970 |
O Largo da Mutamba, Praça de onde saíam e chegavam todos os transportes de passageiros que serviam a cidade de Luanda, situava-se no centro da cidade.
Nesse Largo, todos os dias, um polícia sinaleiro em cima dum palanco, dirigia o trânsito que circulava naquele local, e, protegia-se do sol que se fazia sentir nas tórridas tardes africanas, com um sombreiro enorme.
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SINALEIRO NA MUTAMBA SEM SOMBREIRO, O SOL ESTAVA A NASCENTE... |
A troca de funções operada no Dange não tinha dado os resultados esperados e fracassou. Tínhamos regressado às antigas funções de vagomestre, e foi nessas funções que nos deslocámos à Manutenção Militar, para requisitar mantimentos, para alimentar os efetivos da CCaç. 2505, que iriam atuar durante cerca dum mês, em Nambuangongo, como companhia de intervenção.
Possuíamos livres trânsitos para frequentar os salões das fábricas de cerveja da Cuca e Nocal, benesse derivada das funções que agora desempenhávamos, e, no usufruto dessas facilidades, não nos contentamos em visitar apenas uma, mas sim as duas, já que o consumo era oferta da casa e não tinha limite. Depois de bem aviados, com grandes doses de líquido ingeridas, saímos e ocupamos os nossos lugares na Berliet, transporte que utilizávamos para nos deslocarmos e transportar os mantimentos.
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BERLIET: VIATURA DE TRANSPORTE MILITAR NA GUERRA COLONIAL |
Não sei porquê, em má hora, decidimos fazer um raide pela baixa de Luanda. Ao passarmos pela Mutamba, porque o sombreiro do sinaleiro estava virado a poente para tapar o sol, inclinado para dentro da estrada onde seguíamos, mas também porque o retrovisor da Berliet estava um pouco saído, ou ainda porque o condutor não conseguiu medir bem distância a que se encontrava do sombreiro, certamente por não se ter poupado no consumo do precioso liquido, com a visão um pouco toldada, não conseguiu evitar a colisão violenta do retrovisor contra o sombreiro, em consequência de tudo isto, o sinaleiro rodopiou em cima do palanco, estatelando-se no chão.
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ATRÁS, DA ESQUERDA PARA A DIREITA, GABRIEL
FEIJÓ E F SANTOS, EM BAIXO, LOURENÇO |
Nasceu aqui uma grande complicação, principalmente, para o regressado vagomestre, que chefiava esta missão: porque o polícia, que era angolano, dizia que o tínhamos atingido de propósito; que o queríamos matar. Depois de muito dialogarmos, acabamos por convencer o homem que tinha sido apenas um acidente e
despedimo-nos amigavelmente.
Foi assim que ficou resolvido este incidente, que poderia ter comprometido o regresso do vagomestre às suas funções.
Texto: F. Santos