-TESTEMUNHO-
OS PESCADORES NA ILHA DE LUANDA EM PLENA ATIVIDADE |
Ainda não
tínhamos pisado, bem, solo africano, já o lema que nos guiou ao longo desta
odisseia, estava presente: aproveitar ao máximo o que esta terra nos oferecia,
diversão e convívio, que se transformaria numa amizade duradoura, ao longo dos
anos, e que ainda hoje se mantém.
A
guerra viria um pouco lá mais para a frente. Era um prelúdio, que nem dava para
pensarmos o que nos aguardava. Durou pouco tempo. No entanto, tentámos viver
esse tempo, com a energia que os nossos 20 anos, nos proporcionava: desde as
noitadas nas cálidas noites de Luanda, até ao saborear da boa comida angolana em
bons restaurantes. Parecia que tudo o que nos acontecia, era uma maravilha, nem
os muitos serviços que tínhamos de assegurar, nos perturbavam.
Acrescento,
aqui, um parêntese: este grupo era privilegiado; tratava-se dum grupo de
graduados. Certamente os vários grupos de
praças, também terão sabido desfrutar, à sua maneira, o que a bonita cidade de
Luanda nos tinha para proporcionar.
FOTO DE: FERNANDO TEMUDO-DESFRUTANDO A PRAIA |
Neste
panorama “edílico”, seguimos desfrutando o melhor das nossas vidas, durante cerca
de três semanas. As idas à praia da Ilha de Luanda eram um dos nossos
passatempos favoritos. A praia da Ilha era mais do que podíamos ter imaginado,
no entanto, faltava um pouco de atividade mais intensa. Encontrámo-la na pesca.
Juntou-se
um grupo, mais ou menos, com vocação para esta atividade: peixe neste mar, não faltava.
Havia que encontrar as ferramentas, necessárias, para materializar esta ideia: adquirimos
um rolo de sedela (para quem não sabe do que se trata, aqui fica o significado:
“linha resistente e com pouca visibilidade dentro de água a que se ata o
anzol"); anzóis; umas pedrinhas que faziam de chumbada; uns pauzinhos para
a ponta da sedela que se punha entre os dedos para ajudar a puxar a linha e,
claro, um balde para transportar o peixe. Estava constituída a frota de pesca… À
entrada a ilha encontravam-se uns miúdos que nos vendiam o engodo (casulo).
Numa
destas pescarias, não me recordo se terá sido a primeira, provavelmente sim,
tivemos de parar de pescar, porque o balde já estava cheio. Nunca tinha visto
uma coisa assim: cada sedela tinha uns 5 anzóis, era só atirar e puxar, vinham
sempre mais de três peixes em cada vez que se puxava, nem era preciso sentir o
peixe picar. Eram peixinhos pequenos e achatados.
Finda
a pescaria, regressamos ao Grafanil. Tínhamos de providenciar a confeção e
consumo de todo este peixe. Chegámos à conclusão que a melhor solução seria
fritá-lo e fazer um molho de escabeche. Precisávamos de duas frigideiras: uma
para fritar o peixe e outra para fazer o molho. Eram necessários, ainda, alguns
condimentos: óleo, sal e farinha para fritar o peixe; cebolas, azeite e vinagre
para fazer o molho. Isto não constituiu um problema de maior, porque um dos
elementos do grupo era vagomestre. Faltava a bebida: aí desafiámos mais alguns
companheiros, dispostos a provar o petisco. Foram eles que providenciaram umas
grades de cervejas fresquinhas. Foi farra pela noite dentro, com o pessoal
sempre muito alegre.
A
maioria destes militares eram furriéis, bem secundados pelo 1º sargento, da
Companhia de Caçadores 2505, do Batalhão de Caçadores 2872, que serviram em
Angola de maio de 1969 a junho de 1971.
A
menos de um mês de chegarem a Luanda tiveram de dar por terminada a atividade
de pesca na Ilha (a pesca continuou noutras paragens, mas com outras artes), já
estavam nos Dembos, norte de Angola, com algumas amarguras, bastante dolorosas.
Pois Caro Fernando
ResponderEliminarComo me recordo. Quando te referes a outras artes de pesca, calculo que te referias às granadas ofensivas que lançávamos no Rio Dange. Aí vários baldes ficavam logo cheios. Lembras-te? para tomar banho também por vezes as utilizávamos para afastar os jacarés-
Abraço