domingo, 25 de outubro de 2020

O CANAGE, A PICADA E A TECNIL

 -TESTEMUNHO-

Estamos na Região Militar Leste e decorre a Operação Lance. Esta operação, consistia em dar proteção próxima e afastada aos trabalhos de construção e asfaltagem, da futura estrada entre o Lucusse e a cidade do Luso, a cargo da empresa Tecnil. Fazíamos, também, o transporte do pessoal daquela empresa no fim do dia, do local dos trabalhos ao Luso e vice-versa, excetuando os domingos e feriados, assim como, com o avanço dos mesmos pernoitarmos na picada, montando segurança à maquinaria, que à noite ali ficava.

A PORTA DE ARMAS
A foto acima publicada mostra a entrada para o nosso acampamento em bivaque, sem porta de armas, nem alguma espécie de cavalo de frisa. Chamou-se Canage a este estacionamento, por estar ao lado do rio com o mesmo nome. A Tecnil, terraplanou o terreno, não só no seu interior, como também, em uma ou duas centenas de metros à sua volta, dando-nos uma muito boa visão circundante. Protegidos à volta por uma barreira de terra, o maior perigo seria o ataque inimigo com armas de tiro curvo, excluindo completamente um possível ataque, com armas de tiro tenso.
A COZINHA
A BARREIRA AO FUNDO
Assim, vivemos em tendas cónicas, dormindo no chão sobre colchões de ar, todo o mês de Novembro de 1970 até princípios de Janeiro de 1971.
AS TENDAS CÒNICAS
Os dias passavam bastante ocupados dada a constante operacionalidade, com rendições constantes, idas e vindas ao Luso, para transportarmos o pessoal da Tecnil no fim dos trabalhos do dia e lá pernoitando, regressávamos no dia seguinte, sendo rendidos por outro grupo de combate. Salvo dois ou três patrulhamentos e creio uma operação a possível posição inimiga, a vida passava-se entre a picada e o acampamento.
A PICADA ANTES DAS OBRAS
O RIO
OS PETISCOS E COPOS
No tempo livre e como era nosso costume para esquecer o dia a seguir, para além de descansar, aproveitávamos para nos distrairmos das mais variadas maneiras. Para além da Rádio Canage com o rio ao lado, tínhamos banho e praia garantidos e à noite os petiscos e as loiras cucas e nocais. Aqui, também passámos um Natal e uma Passagem de Ano.
Claro que pelo exposto tudo isto parecia uma pasmaceira, mas nem tudo foram rosas. Tivemos alguns problemas, um bastante grave, mas isso é assunto para outro testemunho.
Hoje, sei que este local foi aproveitado para construir uma povoação, que possivelmente tem o mesmo nome.

Texto e fotos
 João Merca

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