-FARDA OU FARDO?-
Em meados
de março recebo Guia de Marcha para a minha Unidade Mobilizadora – Regimento de
Infantaria 2, em Abrantes. Apresento-me ao Oficial-de-Dia, que me encaminha
para a Secretaria. Recebo de imediato Nova Guia de Marcha para me apresentar no
dia seguinte no CIM (Campo de Instrução Militar) de Santa Margarida, próximo do
Tramagal – localidade onde eram montadas as Berliets militares – para me reunir
à minha nova família militar: Companhia de Caçadores 2506 do Batalhão de
Caçadores 2872, cujo lema é CONQUISTANDO
OS CORAÇÕES SE VENCE A LUTA. Apresento-me ao Capitão Santana, que me ordena
para me dirigir à Secretaria da Companhia, onde vou encontrar o que viria a ser
um grande amigo, lº Sargento Vilares, que atingiu a patente de Capitão, provindo
de Soldado, tal a sua capacidade intrínseca, demonstrada pelos livros que já
publicou, quer em prosa quer, e principalmente, em verso poético, de caráter
genérico e épico. Sou apresentado também a todos os restantes Graduados e às
Praças cujas caras e nomes me iriam ser tão familiares durante quase 26 meses.
C I M DE SANTA MARGARIDA |
Nova
situação, nova vida. Necessários ajustamentos. Santa Margarida, para além de
outros poucos locais no país, era o Campo Militar por excelência onde se fazia
o denominado I.A.O. – Instrução e Aperfeiçoamento Operacional –, atendendo às
caraterísticas do terreno, que era (é) propício à criação duma ambiência
similar ao teatro de operações que iríamos enfrentar em África. Seis semanas
consecutivas de treino intensivo, intervaladas apenas com alguns
fins-de-semana, que eram aproveitados para descanso e visita à família e
namorada. Rotina desgastante. Mas eis que chega a informação da data do
embarque: 8 de maio, no navio Uíge.
Tensão aumentando gradualmente, face à despedida inevitável. A minha namorada é
informada e todos os meus familiares também, com exceção do meu pai. No último
fim-de-semana regresso a Santa Margarida, despedindo-me dele com um beijo,
aparentemente normal, e um “até sábado!”.
Foram muito difíceis aqueles momentos, para todos nós que sabíamos. Mas … tinha
que ser.
Apanho
o comboio em Campanhã, passo a velhinha Ponte D. Maria, olho para a minha linda
cidade, que vista de Vila Nova de Gaia ainda é mais encantadora, e
questiono-me: “será que vou voltar a ver
o Porto?”. Muita tropa no comboio, de regresso aos quartéis, como era
normal naquela época, no fim do fim-de-semana. Porém, talvez só eu me
encontrasse naquela situação especial … que tinha que controlar.
Carlos Jorge Mota
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