-FARDA OU FARDO?-
Na BTR
a vida quotidiana da Companhia era de mera rotina dum Aquartelamento e de lá
saía um Grupo de Combate para a localidade de Sacassanje, que se revezava diariamente,
a fim de dar proteção às obras em curso, consubstanciada naquilo que, em
linguagem militar, se define como de Segurança Imediata e de Segurança Próxima,
isto é, posicionamento, respetivamente, junto aos civis da Tecnil (Empresa
Adjudicatária) e na mata envolvente.
Às
outras Companhias, sediadas nos pontos já citados, era-lhes atribuída idêntica
missão, acrescida de, através de um ou mais Grupos de Combate, entrar em
Operações, nomeadamente na zona do Rio Lungué-Bungo, onde existia um
Destacamento de Fuzileiros Navais, e fazer escoltas a MVL’s destinados à Vila
de Gago Coutinho, que envolviam alguma perigosidade face às frequentes minas
colocadas pelo IN na picada.
Findo
o serviço diário e dos dias de alternância na mata vínhamos para a casa alugada
e matávamos o tempo a ler, ouvir música e a conversar, mas antes disso
passávamos pela Pastelaria Cristália, ex-libris do Luso, cujos donos eram
provenientes do Porto, de Campanhã, onde lanchávamos e fazíamos novas amizades
com camaradas doutras Unidades. Aí conheci o Cândido Rodrigues, de Viana do Castelo,
que posteriormente se licenciou, penso que em Direito, e o Fernandinho e o
Jorge, ambos do Porto, colocados no Comando da ZIL, e que, para o regresso a
Luanda, o primeiro me foi muito útil. Finda a Comissão de todos (eles tinham um
ano a menos do que eu em Angola) encontrávamo-nos amiúde na nossa cidade.
Inclusive o Jorge casou com uma moça minha conhecida, mas, infelizmente, ficou
viúvo muito novo.
O
Clube Ferrovia era também local de presença assídua, nomeadamente para as
festas que organizavam e cuja entrada nos facilitavam, apesar de não sermos
sócios, mas obrigatoriamente trajando à civil. E o Cinema Luena era local
obrigatório de permanência, onde exibia filmes de bastante interesse para a
época.
LINDO JARDIM NO CENTRO DA CIDADE |
CLUBE FERROVIA |
Também
na Pastelaria Cristália conheci dois Alferes Milicianos, o Diogo e o Martins (este
de Espinho), Comandantes de dois Pelotões de Artilharia Anti-Aérea, recém-chegados
da Metrópole e cuja viagem tinha sido atribulada. Quando navegavam já no Golfo
da Guiné, receberam ordem para um dos Pelotões rumar a São Tomé. A Guerra do
Biafra estava no seu auge e temia-se que a Nigéria bombardeasse com aviação
aquele arquipélago, pois havia pilotos portugueses (talvez não oficialmente) a
auxiliar os secessionistas. Situação insólita se deparou ao Comandante do
Pelotão destacado, não me lembro já se foi o Camarada Diogo ou o Martins, pois
durante todo o tempo de permanência lá não receberam um tostão de pagamento do
soldo e todo o pessoal não tinha dinheiro para comprar rigorosamente nada.
Andou a assinar vales pelos estabelecimentos civis, que seriam resgatados
posteriormente.
Carlos
Jorge Mota
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