-FARDA OU FARDO?-
Com
destino já programado para o Leste, mais propriamente para o Distrito do
Moxico, abalámos numa manhã cedo dos princípios de setembro de 1970 para Nova
Lisboa, pela estrada alcatroada utilizada normalmente pelo tráfego civil uma vez
que fica fora de área de atuação do IN. Parámos novamente em Quibala para um
ligeiro descanso durante o qual se almoçou a Ração de Combate, completa, pois
sabia-se que à chegada à capital do Distrito do Huambo haveria uma ligeira
refeição quente à nossa espera, sopa pelo menos, num dos Quartéis onde
pernoitaríamos. Aproveitei para ir a um Quimbo (Mosseque) que estava muito
próximo e tirar umas fotografias com gente nativa, muito afável e prestável.
MOENDO O PIRÃO |
MACAQUINHO BRINCALHÃO |
Retomada
a marcha e chegados à tardinha a Nova Lisboa, atestaram-se viaturas num dos
Aquartelamentos na denominada Zona dos Quartéis, concretamente no R.I. 21,
comemos uma sopinha quente e fomo-nos recolher pois o dia seguinte iria ser
árduo.
Alvorada
tocada, dirigimo-nos para a Estação de Caminho de Ferro de Nova Lisboa do CFB -
Caminhos de Ferro de Benguela, que liga a Vila de Teixeira de Sousa, na
fronteira com o Congo ex-Belga (Zaire), ao Porto de Benguela (e que tem
continuação para o Porto do Lobito), e que é utilizado por aquele país para
escoamento marítimo dos seus produtos daquela sua área geográfica, nomeadamente
minérios. Na Estação tínhamos um Comboio Especial já à nossa disposição no qual
carregámos as viaturas, pesadas e ligeiras, e todo o material que
necessitávamos, incluindo armamento e munições – tarefa trabalhosa e bastante demorada.
A viagem
até à localidade definitiva, cidade do Luso, no Moxico, nosso destino final,
iria ser feita em duas fases, dado que uma Operação de alguns dias, na zona do
Munhango, Distrito do Bié, estava já programada, envolvendo todo o Batalhão, com
as suas Companhias dispersas por uma área alargada, na zona de atuação da
UNITA, precisamente na localidade onde nasceu o seu Comandante-em-Chefe, Jonas
Malheiro Savimbi, cuja captura, a concretizar-se, seria um troféu preponderante.
O comboio habitualmente fazia todo o percurso precedido duma Draisine, um pequeno veículo, totalmente
blindado, que também era usado para Serviço de Obras na via, mas que ali
desempenhava a função de detetar a eventual colocação de minas ou armadilhas,
situação muito pouco provável atendendo a que o próprio Zaire não estava
interessado na desestabilização deste importante braço escoador marítimo das
suas mercadorias e impunha as suas regras aos Movimentos de Guerrilha que
apoiava (FNLA, no Norte, e UNITA, no Leste), bem como a própria Zâmbia, que
apoiava o MPLA, e que também utilizava esta via ferroviária, atravessando
previamente território zairense.
Decorridas
umas 4 a 5 horas de viagem, com algumas paragens pelo meio, chegámos finalmente,
já pelo fim da tarde, ao nosso destino provisório: Estação de Cangumbe, em cuja
proximidade a nossa Companhia iria atuar em Operações, pelo que foi necessário
efetuar todo o processo inverso, isto é, descarregar viaturas e material.
Mesmo
junto à Estação existia um Aquartelamento das NT, fortemente guarnecido, que,
enquanto permaneceu dia, e depois de findos todos os procedimentos, para
liberação do Comboio, nos permitiu alguma descompressão na respetiva Cantina e
beber umas cervejas, que o calor apertava.
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