-NOTÍCIA-
domingo, 27 de dezembro de 2020
FALECIMENTOS NA COMPANHIA
terça-feira, 22 de dezembro de 2020
BOAS FESTAS 2020
sexta-feira, 4 de dezembro de 2020
O PADEIRO QUE FICOU CHAMUSCADO...
-TESTEMUNHO-
João
Martins (padeiro) ao centro, com o Mateus (Macary) à esquerda e o 1º cabo
Domingos Ferreira à direita |
O João dos
Reis Martins era um soldado atirador do 1º grupo de combate da Companhia de
Caçadores 2505 do Batalhão de Caçadores 2872. Natural de Montemor-o-Velho (não
confundir com os alentejanos de Montemor-o-Novo), vila portuguesa do distrito
de Coimbra, situada na província da Beira Litoral, distrito de Coimbra. O
Martins alternava com o Salvador de Almeida Mondim (este camarada da terra do
“carrapau”-Setúbal), na arte de fabricar o pão para o pessoal da companhia,
livrando-se assim de algumas missões mais complicadas.
A nossa companhia, sempre acampou no meio da mata, em tendas de campanha (exceção a um curto período de permanência no Grafanil, em Luanda), para fabricar o tão apetecido pão utilizávamos um forno elétrico da marca “REKENA”.
Na última etapa da nossa comissão de serviço, no Lungué-Bungo, era o Martins quem assegurava o fabrico do imprescindível pão que acompanhava religiosamente todas as refeições. Este nosso padeiro era oriundo duma aldeia, onde os fornos comunitários, essencialmente, feitos de barro, todos os habitantes fabricavam pão.
Então o nosso padeiro, no Lungué-Bungo, vinha insistindo que devíamos construir um desses fornos: havia barro, havia água, havia lenha. Isto era o que ele vinha dizendo. Até que um dia, abordou-me diretamente e disse-me: “meu furriel, vamos fazer um forno de barro!”, e prosseguiu: “o meu furriel vai ver que nunca comeu um pão tão bom”. Depois de alguma discussão concordei com ele e disse-lhe: “então vamos construir o forno”.
O João Martins tinha sempre boas relações com os companheiros do pelotão e não só, arregimentou-os para nas horas vagas, participarem na construção do forno. Ao fim de alguns dias, o forno já estava construído, pronto para começar a produzir o pão. Até ficou bonito.
O forno de barro |
F. Santos – Memórias de Angola
30 de setembro de 2020
sexta-feira, 13 de novembro de 2020
A MINA NA CAÇADA
-TESTEMUNHO-
O dia 13 de Dezembro de 1970, amanheceria como muitos outros. Nesse dia às oito da manhã e sem grandes formalidades, eu e o meu grupo de combate estaríamos de serviço. Entraríamos numa espécie de piquete, com alguns elementos destacados durante o dia para rotineiras tarefas no acampamento. Um outro grupo, penso que o terceiro efetuaria a segurança ao acampamento. Tudo apontava para um dia calmo possibilitando a hipótese de um merecido descanso.
Estávamos no Canage e nessa altura se não me engano, comandava o grupo de combate, que pela ausência do nosso maior, o J Franco estava à frente da companhia
O Canage era nem mais nem menos o lugar, onde a picada Luso/Gago Coutinho, atravessava o rio com o mesmo nome e que mais à frente iria desaguar no rio Lungué-Bungo, este que a jusante acabava no rio Zambeze. Aqui, a Empresa Tecnil aplanou o terreno e devastando a savana em seu redor, criou as condições para montarmos um acampamento provisório onde permanecemos algum tempo, passando lá o último Natal, na nossa quase finda comissão de serviço. Excetuando uma ou duas tendas quadradas, sendo uma delas a nossa messe, dormíamos em tendas cónicas e tudo o resto era passado ao ar livre.
A vida corria normalmente naquele local, salvo um ou outro susto no cumprimento da missão que nos tinha sido confiada e que consistia na proteção próxima aos trabalhos que a Tecnil vinha a executar na picada entre a cidade do Luso e o Lucusse , inclusive também, às máquinas que à noite ali ficavam estacionadas. Na segurança afastada, atuávamos com a efetivação de várias operações de patrulhamento no local, ou outros ofensivos a objetivos, indicados pelo nosso oficial de operações.
O CANAGE |
Depois dos contactos havidos com o inimigo no Caminhão, a nossa maior preocupação e dada a configuração do terreno, estava mais dirigida para as minas, especialmente nas picadas.
No leste de Angola e principalmente naquela zona, a savana era a paisagem dominante. Era também local onde caça grossa abundava, em especial ao amanhecer junto a locais com água. Por vezes, quando havia disponibilidade o que não era fácil, saíamos para efetuar uma ou outra caçada, cujo resultado servia para melhorar a dieta do pessoal. O rancho não era nada mau, pois tínhamos um bom “chefe de cozinha”, o nosso vagomestre mas, ou por interrupções no abastecimento por vários motivos ou por o mesmo chegar com os frescos em mau estado de conservação, lá tínhamos como menu, os “ciclistas” com atum ou o arroz de salchichas e vice-versa, quando o pior ainda poderia ser a ração de combate.
Tínhamos bons atiradores onde destaco o Jorge (caçador), que com a caçadeira, mauzer ou G3, raramente falhava.VIATURA MINADA NO ACAMPAMENTO |
Chegados ao local a tragédia estava à vista e logo reforçamos a segurança do local. Todos estavam enfarruscados, surdos, combalidos, com pequenos ferimentos sem gravidade, mais provocados pela queda forçada. A nossa maior preocupação era o condutor da viatura minada, o Proença Gonçalves, que salvo erro, apresentava no pé e perna esquerda ferimento de bastante gravidade. Já estava a receber alguns cuidados que reforçámos com auxiliar enfermeiro que levávamos. Imediatamente, dada a situação de urgência e falando com o nosso Primeiro que também estava na caçada, pedi se não estou em erro ao sinistrado transmissões A Sousa, que enviasse uma “Charlie”, mesmo em claro para o acampamento, informando o comando da Cia, que de imediato nos deslocaríamos para lá, sendo necessário chamar o “hélio” para uma evacuação.
EVACUAÇÃO |
O João P Gonçalves foi evacuado primeiramente para a cidade do Luso e felizmente hoje está bem e não deixa de comparecer aos nossos Encontros Anuais. Continua a gostar de caçar.
A parte operacional desenvolvida nesta ação, pelos elementos que possuo e dada a distância no tempo, foi aqui recordada em escrito muito cruzado, tentando testemunhar o que aconteceu naquele dia 13 de Dezembro de 1970.
Texto: João Merca
Fotos: João Merca e João Gonçalves
segunda-feira, 2 de novembro de 2020
DIA DE FINADOS
-NOTÍCIA-
Hoje foi o dia que mais profundamente, sempre recordaremos os nossos irmãos de armas falecidos.
Na página deste blogue "IN MEMORIAM", publicamos os combatentes da nossa Companhia falecidos na então Província Ultramarina de Angola, assim como de todos os que após o nosso regresso à Metrópole, tivemos conhecimento. Vamos lembra-los e recordar todos os bons momentos, que com eles passámos. Vamos sempre ter presente que nunca morreram, que apenas partiram antes de nós.
Apresentamos às suas famílias e amigos o nosso mais profundo pesar. Que descansem em paz.
João Merca
sexta-feira, 30 de outubro de 2020
FALECIMENTOS NA COMPANHIA
-NOTÍCIA-
domingo, 25 de outubro de 2020
O CANAGE, A PICADA E A TECNIL
-TESTEMUNHO-
Estamos na Região Militar Leste e decorre a Operação Lance. Esta operação, consistia em dar proteção próxima e afastada aos trabalhos de construção e asfaltagem, da futura estrada entre o Lucusse e a cidade do Luso, a cargo da empresa Tecnil. Fazíamos, também, o transporte do pessoal daquela empresa no fim do dia, do local dos trabalhos ao Luso e vice-versa, excetuando os domingos e feriados, assim como, com o avanço dos mesmos pernoitarmos na picada, montando segurança à maquinaria, que à noite ali ficava.
A PORTA DE ARMAS |
A COZINHA |
A BARREIRA AO FUNDO |
AS TENDAS CÒNICAS |
A PICADA ANTES DAS OBRAS |
OS PETISCOS E COPOS |
sexta-feira, 16 de outubro de 2020
FALECIMENTOS NO BATALHÂO
-NOTÍCIA-
EM AGOSTO/2018 ASSOCIAÇÂO COMANDOS, UMA DAS MUITAS PARÓDIAS QUE REALIZÁMOS: A ÙTIMA FOI EM MARÇO 2020, NO GUIZADO O Manel no comando, Neves, Merca e Pimpão. |
terça-feira, 6 de outubro de 2020
A VIDA NO LUNGUÉ-BUNGO...E O "CABO GULOSO"
-TESTEMUNHO-
Lungué-Bungo, última etapa da nossa comissão de serviço em Angola. O rio com a sua ponte, o agrupamento de fuzileiros e o campo de futebol, na margem direita a sul da ponte. A "Ilha do Hipopótamo" e aquilo a que chamamos praia, a norte da ponte. Na direção de Gago Coutinho do lado direito da estrada, no sentido Luso, Gago Coutinho, o nosso aquartelamento, a seguir à casa de negócio e habitação do senhor Fonseca, comerciante e agricultor, radicado em Angola, havia muitos anos, onde vivia com uma angolana. A mulher e os filhos, tinham regressado a Portugal, a seguir ao início da Guerra Colonial, para a cidade de Coimbra. O quimbo, em frente das nossas instalações, do lado esquerdo da estrada.
Foto de Manuel Pimenta: à direita, em primeiro plano a casa do Sr Fonseca.
A entrada do nosso aquartelamento situava-se, logo a seguir. Em frente do Quimbo
Pilar da Ponte com o Furriel Miliciano Merca a indicar a distância para Lisboa |
O Furriel Merca a treinar Ski ao que parece com sucesso |
A praia ( 1º. Reis e os Furriéis Zé Simões, Fernando Santos e João Merca) |
O Rio e a Ilha ao fundo |
A casa de comércio do senhor Fonseca (vendia tudo) era,
frequentemente, palco de muitos petiscos noturnos, já que os petiscos diurnos
tinham como cenário a Ilha. Na Ilha, acompanhavam-nos, nestas diversões, os
militares do agrupamento de fuzileiros, aliás eram eles que nos transportavam
nos botes. Estes petiscos eram sempre bem regados com "catembe",
"tricofiht", "banheira" e outras misturas, com tudo o que
havia para misturar.
No regresso, raras foram as vezes em que não tivemos de descer o rio ao sabor da corrente. O homem do leme, depois da confraternização, tinha alguma dificuldade em acertar com a passagem: as hélices dos botes ao passarem no meio das pedras eram destruídas por estas, nem as suplentes nos salvavam e também acabavam por se partir.
Petisco no Fonseca Petisco na Ilha (pode ver-se a lata com a magnifica mistura)
Trabalhos na estrada (TECNIL) |
Tambores |
Local de apoio à proteção onde era distribuído o reforço |
Cabo Guloso em cima do para choque da viatura ali mesmo ao centro |
O Lungué-Bungo terá sido, depois de Luanda, o local onde
melhor nos sentimos e com muita "estória" para contar. É a nostalgia
desse tempo, a falar, onde a guerra, ficou um pouco para trás.
A história do "CABO GULOSO" foi-me contada pelo ex-1º Cabo, Joaquim Pereira dos Santos. Obrigado Santos, pela narrativa!
Fotos de: M Pimenta, J Merca, H. de Jesus e J. Santos
F. Santos - Memórias de Angola
terça-feira, 22 de janeiro de 2018
sexta-feira, 25 de setembro de 2020
LUANDA, INÍCIO DA COMISSÃO, A PESCA NA ILHA E O PETISCO...
-TESTEMUNHO-
OS PESCADORES NA ILHA DE LUANDA EM PLENA ATIVIDADE |
FOTO DE: FERNANDO TEMUDO-DESFRUTANDO A PRAIA |
sexta-feira, 18 de setembro de 2020
FALECIMENTOS NA COMPANHIA
-NOTÍCIA-
PS: Muito agradecemos esta informação, ao seu amigo e conterrâneo Joaquim Cortes, combatente do Bat Art 3859, em Angola em 71/74.
sábado, 12 de setembro de 2020
NUMA CAÇADA, O JIPE NÃO AGUENTOU COM O "PESO" DA CAÇA
Viaturas usadas na caça
O Furriel miliciano Fernando Santos, com as botas a precisar de reforma, pousando para a objetiva
A guerra colonial teve muitas facetas, direi mesmo que se desenrolaram ao longo desta guerra, muitas “guerras” paralelas. Uma delas foi a luta, dentro das condições adversas duma guerra, sabermos lutar por melhores condições para desfrutarmos dos prazeres dum bom petisco, inventando formas de arranjar alguma coisa mais do que nos era oferecido: fosse passando a “perna” ao vagomestre e subtraindo alguns alimentos extra; fosse participando em caçadas.
Estávamos no Leste de Angola, na estrada que nos levava do Luso a Gago Coutinho, mais propriamente junto ao rio Canage, uma terra de ninguém, como era nosso apanágio, desde o início da comissão. Éramos a Companhia de Caçadores 2505, a mal-amada, do Batalhão de Caçadores 2872.
Nas caçadas, muitas peripécias aconteceram: desde o vagomestre ter ficado abandonado, sozinho, durante longo tempo (testemunho já aqui contado em “uma caçada que podia ter corrido mal…”; desde o rebentamento duma mina, testemunho que espero que o camarada João Merca venha a escrever sobre ele. Esta mina não se destinava a provocar estragos naquela caçada, mas para uma operação de outra unidade que se desenrolaria na semana seguinte (as consequências deste rebentamento foram: alguns feridos ligeiros; um ferido grave que recuperou depois de 20 dias em coma, entre o Hospital do Luso e o Hospital Militar de Luanda e por último o castigo de 5 dias de prisão para 1º sargento da companhia); desde de, apanhados em franco delito, termos de dividir a caça com o comandante do Batalhão. Mas isso são outras histórias.
Numa caçada, onde tivemos grande sucesso, abatemos alguns gnus, vulgo “boi cavalo”, carregámos a caça num jipe Wills. Depois de andar alguns quilómetros, devido ao “peso” da caça, mas para mim depois de passados estes anos todos, pela falta de água no radiador, começou a deitar fumo através do capot, que rapidamente se transformou numa fumaça enorme, um nevoeiro, que parecia que emanava duma fogueira. Felizmente seguia nessa “missão” o 1º cabo mecânico, que ficou ainda mais preocupado que os restantes membros de caça, incluindo um 1º sargento e um ou dois furriéis. O cabo mecânico analisou a situação que estava a acontecer, mas a solução não era fácil. Nisto apareceu alguém do grupo, não faço ideia quem. Terá sido mesmo o cabo mecânico ou algum condutor que seguia nesta missão, com uma solução milagrosa. A solução era: mijarmos todos para o depósito do radiador. Esta solução, na falta de outra melhor, foi aceite pelos graduados e foi passada à prática. Não sei se foi uma boa solução, mas o jipe chegou até ao acampamento com todos os troféus de caça. Já não me lembro, nem faço a mínima ideia, se pelos próprios meios ou se rebocado pelo “burro do mato”.
F. Santos -Memórias de Angola
08 de agosto de 2020