domingo, 23 de maio de 2021

ANIVERSÁRIO DO MANUEL MATEUS

 -NOTÍCIA-

Hoje dia 23 de Maio, é o dia do aniversário do nosso companheiro de armas e amigo Manuel Correia Mateus. Elemento do 1º. Grupo de Combate, da 1ª. Secção da nossa Companhia, que no dia 03JAN69 tive o prazer de conhecer e que até hoje mantenho uma relação de amizade.

Fica aqui, a oportunidade para os combatentes, familiares e amigos da C Caçadores 2505, lhe darem os parabéns pelo seu 74º. Aniversário.

Parabéns Manuel

J Merca

terça-feira, 18 de maio de 2021

VIATURA CIVIL NA REDE PERIFÉRICA

 -TESTEMUNHO-

Aconteceram situações na guerra colonial, que por serem pouco normais numa guerra, ninguém ousa pensar poderem existir. Para além de serem pouco normais, alguns são de grande gravidade militar segundo o na época existente, Regulamento de Disciplina Militar-RDM. Mas vamos começar antecipando-nos um pouco, ao que de central aconteceu neste testemunho, que agora publico.

Chegados ao Porto de Luanda no dia 21 de Maio de 1969, pelas 22H00 a bordo do Paquete Uíge, seguiu-se o transporte de comboio para o Campo Militar do Grafanil, onde finalmente já depois das 24H00 bivacámos numa espécie de armazéns, sem camas e em alvenaria. Ali permanecemos dois dias, até nos serem distribuídas as instalações definitivas.




Entrada Grafanil, armazéns em alvenaria e instalações definitivas

Pois bem! É aqui que a estória começa:

Desde a Escola Preparatória de Quadros ainda no RI 2, que eu e um dado Furriel Miliciano, com maneiras de ser muito ajustadas com as minhas, partilhando muitas vezes as mesmas instalações, refeições etc., para além de grande camaradagem, vínhamos criando e mantendo uma franca amizade. Já era do nosso conhecimento, que o Batalhão teria a missão de na Rede Periférica, defender a cidade de Luanda substituindo o Batalhão de Caçadores 1909. 

Assim, ao terceiro dia decidimos conjuntamente, efetuar um patrulhamento de reconhecimento à cidade. No dia seguinte, tomámos como decisão mutua o aluguer a meias de um alojamento na cidade, pelo facto de muitas vezes só ser necessário estar no quartel às 08H00. Assim, alugámos um apartamento no Aparthotel Katekero, sito no Largo Serpa Pinto, próximo da Mutamba no centro da cidade. Também através do nosso Furriel Mec/Auto, que conhecia bem um outro estacionado na Tentativa, possibilitou-nos sempre que possível utilizar em ótimas condições, o aluguer de um Sinca ou um Mitsubishi Colt.


Katekero e o Sinca

Os dias decorriam com normalidade entre serviços à Companhia, Rede e Patrulhamentos na área atribuída ao Batalhão, na periferia de Luanda. Sendo o nosso Furriel, um “namoradeiro” nato era impossível o amor não acontecer. Claro que confidente que éramos, logo a Manuela me foi apresentada. Muitas vezes convivíamos a quatro, com uma moça por ela apresentada, a Isabel. Recordo frequentarmos uma ou outra festa, estando mais presente uma realizada num apartamento por cima do Arcádia na Avenida Marginal.

Patrulhamento periferia de Luanda

A 18 de Junho de 1969, tivemos um dos piores pesadelos por que passamos na guerra em Angola. A Companhia entrava na Intervenção e para participar na Operação Grande Salto, partiria para a Região dos Dembos, como reforço ao Batalhão de Cavalaria 2830, os Centauros. Todos pensávamos que seria pouco tempo, mas acabámos por lá permanecer quase seis meses. O nosso Furriel ficou de trocar correspondência com a Manuela e talvez aproveitar alguma licença para passar uns dias em Luanda. E assim, excetuando Nambuangongo, lá partimos para o maior pesadelo da nossa comissão de serviço.
Pausa numa operação apeada nos Dembos. Zona do Rio Dange entre a Ponte e F Maria Fernanda

Finda esta operação, regressámos a tempo da passagem do ano 1969/70 já em Luanda. A Operação Grande Salto nos Dembos, norte de Angola já fazia parte da história. Esta Intervenção tinha chegado ao fim e de novo na Rede Periférica, tínhamos um merecido descanso psíquico, dado que o receio de um possível contacto com o inimigo era quase nulo. Os dias voltaram a correr, com a normalidade igual ao período que antecedeu aquela operação, mas cuja vivência já deixara uma marca profunda. Os dias eram vividos, um após o outro, a 100%. Desta vez trocamos o Katekero pela Pensão Sírios, que ficava muito perto da Paris Versailles, Polo Norte e Portugália e onde também muitas vezes almoçávamos. Pois bem! Excelente altura para acontecer o amor e o nosso Furriel conheceu a Maria dos Anjos. A Manuela e a Maria dos Anjos colocavam o nosso militar, a viver entre dois amores.

Estávamos em Abril de 1970 e os nossos Grupos de Combate estão escalados para o sector A da Rede. Não sei por que motivo mas, estou no comando desta força. Claro por ser o mais velho, com maior nota de curso, mas principalmente porque nesse dia, como em muitos outros acontecia, o Alferes Franco possivelmente estava de férias, ou estava no comando da Companhia. O Alferes Vasconcelos já não estava connosco. Também não tenho ideia, quais os graduados que estavam connosco, incluindo o condutor. Lembro, que até poderia estar presente o nosso 1º. Cabo Herminio Leitão do 1º. Grupo Combate, que por vezes até fazia sargento de dia à companhia, dado o Grupo só ter dois furriéis. Na Companhia por esta altura, também tinham sido abatidos ao efetivo dois ou três furriéis, por transferência disciplinar.

Na Rede, existia uma casa de madeira com seis camas e uma mesa com bancos, que constituía o Posto de Comando-PC. de onde partíamos em ronda auto, por uma picada ladeada por arame farpado com iluminação, verificando a melhor vigilância dos postos de sentinelas. Controlávamos também das 08H00 até às 17H00 a identidade de pessoas apeadas, que por um caminho que existia ao lado do PC, entravam e saíam da Rede Periférica.


Postos de vigia da Rede Periférica

Nesse dia às 08H00, depois da continência à Bandeira no Campo Militar do Grafanil e depois de estabelecido o pessoal por grupos de três com a respectiva senha de aproximação, logo marchámos em pequena coluna auto, com destino à Rede Periférica. Quando chegámos ao PC, todos os graduados se apearam, à exceção de um que continuou percorrendo a picada, parando posto a posto, rendendo o pessoal existente pelo acabado de chegar. Quando as viaturas chegaram de novo ao PC trazendo o pessoal rendido, os graduados rendidos nelas montaram, deixando uma delas e levando a que anteriormente tinha sido utilizada, para abastecer.

Depois de nos levarem o almoço, na Rede tínhamos sempre refeições quentes, o nosso Furriel Miliciano partiu com o condutor para a sua ronda pelos postos de vigia. Passado mais ou menos o tempo necessário para efetuar a ronda, o condutor regressou sem o nosso Furriel. Sorrindo logo o questionei:

-Então Pá onde deixaste o nosso Furriel?

-Ficou na estrada do Cacuaco!

-Então?

-O nosso Furriel disse que tinha conhecimento da situação.

-Bom! Está bem!

Bom! O nosso Furriel “desenfiou-se” e foi ter com a Maria do Anjos, a sua nova namorada. Também logo pensei: “sacana lá tenho de passar rondas a dobrar.” Na “tropa” as coisas são assim. Hoje é ele, amanhã sou eu. Só esperava, que ninguém superior a nível do Batalhão aparecesse, o que não seria inédito. 

Vista do último Posto do Sector A perto Estrada Cacuaco

Tudo corria bem até que, noite já entrada, um camarada da torre de vigia próxima do PC, entrou gritando que um carro civil circulava na Rede. Estando deitado, levantei-me, peguei na Walther, arma utilizada por nós naquele serviço e todos os presentes saíram. Um táxi aproximava-se do PC. Corri para ele  e apontando a arma dei ordem para parar onde estava, e para o motorista sair da viatura. O táxi parou e para meu grande espanto dele saiu a Manuela, a outra namorada do nosso Furriel, que dirigindo-se a mim exclamou exaltada:

-Quero falar com ele! Onde está!

-Não podes estar aqui e ele não está.

-Sei que está, já me informei.

-Aqui só estamos nós e fazes o favor de entrares no táxi e ires embora.

-Só vou embora quando falar com ele. Tenho quase a certeza que esse malandro me anda a enganar.

-Vá lá entra no táxi e vai embora. Falas com ele amanhã. Não podes estar aqui. Estás numa zona se segurança militar, serei obrigado a deter-te.

-Vamos embora minha senhora! Exclamou o motorista do táxi.

-Tu sabes onde ele está. Vocês são todos iguais!

-“Tabém!!” Pronto! Vai lá embora. Logo que esteja com ele, digo que estiveste aqui.

Bem! Consegui que a Manuela fosse embora e também avisei o motorista do táxi, que não mais se aproximasse da rede, em especial à noite.

A meia-noite chegou depressa, assim como o nosso Furriel. A manhã também chegou, assim como a nossa rendição. Apresentava-se a possibilidade de o dia agora nascido ser de folga. Não tenho ideia da conversa tida com o nosso Furriel, mas se houve, como sabemos foi muito curta.

Sobre isto nada foi relatado e se questionado aos “quesitos disse nada”.

Texto: J Merca

Fotos: Merca, Alegre, Pimenta

Nota: As conversas poderão não ter sido bem estas, mas possivelmente estarão muito perto das verdadeiras.

domingo, 9 de maio de 2021

O DIA 8 DE MAIO DE 1969

 - TESTEMUNHO-

O dia 8 de Maio de 1969 amanheceu como todos os outros. Era uma quinta-feira como todas as outras, com tempo anemo, com o sol a aparecer e não chovia. Foi também a data do nosso embarque no Paquete Uíge, após mobilização, para servir militarmente em comissão de serviço, na então Província Ultramarina de Angola.

Vamos voltar mais ou menos sete meses atrás, 9 de Outubro de 1968, já estava colocado no RI2-Regimento de Infantaria 2, em Abrantes, depois de ter terminado o 2º. Ciclo do CSM de Operações Especiais. Em fins de Novembro do mesmo ano, encontrava-me a dar uma recruta e já na sua parte final fui nomeado para o Ultramar, a fim de fazer parte da Companhia de Caçadores 2505, do Batalhão de Caçadores 2872, sendo a Unidade mobilizadora o Regimento de Infantaria 2.

Porta de Armas do RI2

Como se costuma dizer, estava a jogar em casa e no início de Dezembro de 1968, vi chegar o Comando do Batalhão, assim como todos os camaradas graduados para dar início à Escola Preparatória de Quadros, que terminou por volta do dia 20 de Dezembro. Nesta altura, para grande alegria de todos, foi-nos atribuída uma licença até ao princípio do novo ano, permitindo-nos passar o Natal em casa.

Do início do ano de 1969 até ao mês de Março, teve lugar a Instrução de Especialidades, Atiradores, Armas Pesadas e Corneteiros, já dada pelos quadros da Companhia/Batalhão. 

Caserna da Companhia

Desfile no RI2

No mês de Março marchamos para o Campo Militar de Santa Margarida, onde integrámos a 1ª. Fase de Instrução de Aperfeiçoamento Operacional – I.A.O. Ao contrário do dia do embarque foram semanas muito chuvosas, só melhorando na terceira, onde camaradas de outras especialidades ao chegarem também se integraram para os exercícios de campo. Findo este exercício, tivemos conhecimento que o embarque tinha sido atrasado para o dia 8 de Maio e todo o pessoal entrou numa merecida e pequena licença.

Campo Militar de Sta Margarida

Por se ter verificado este atraso e após a licença iniciámos uma 2ª. Fase do I.A.O. com uma Semana de Campo nos últimos dez dias de Abril, onde aperfeiçoámos algumas falhas na instrução.

Ainda no Centro Militar de Santa Margarida e às tropas em formatura foi entregue o Guião ao Batalhão pelo Brigadeiro Barroso Hipólito, assim como também, a outras forças mobilizadas e em parada. Antes do embarque, de comboio para Lisboa e em formatura geral, foram dadas instruções de logística em geral, relativamente à distribuição no comboio e barco, assim como, cuidados a ter durante as viagens, o desfile no embarque, cuidados com as instalações distribuídas e relações com o pessoal de bordo do navio. Também foi aproveitado o momento, para de efetuar a distribuição a todo o pessoal de comprimidos contra o enjoo e ati-palúdicos.


O Guião e o Paquete Uíge

Chegou o “Dia Mais Longo” e na madrugada de 8 de Maio de 1969, embarcámos na Estação Ferroviária de Santa Margarida com destino ao Cais da Rocha Conde de Óbidos em Lisboa, onde chegámos por volta das 08H00. Com nova formatura geral de todo o Batalhão, foi passada revista por um Sr Brigadeiro em representação do Ministério do Exército. Durante toda a operação de embarque, não faltaram as Senhoras do MNF distribuindo tabaco, aerogramas livros medalhas etc.



O Desfile e o Embarque

Eram precisamente 12H30 do dia 8 DE MAIO DE 1969, quando a bordo do Paquete Uíge partimos numa longa viagem para a Região Militar de Angola, onde chegamos pelas 22H00 do dia 21 de Maio de 1969.

O dia 8 de Maio de 2021 amanheceu como todos os outros. Foi um sábado como alguns outros, com tempo anemo, com o sol a aparecer e não choveu. Foi também o 52º. ANIVERSÁRIO DA NOSSA PARTIDA PARA A REGIÃO MILITAR DE ANGOLA.

JMerca

Texto-J Merca

Fotos-J Merca, A Brandão, J Pimenta