sábado, 9 de maio de 2020

O NOSSO ENCONTRO ANUAL

-NOTÍCIA-
Se na vida tudo o que fosse programado, nunca sofresse alteração, hoje dia 9 de Maio teria lugar no Manjar do Marquês em Pombal o Encontro Anual da nossa Companhia. A vida não é assim, dado estar cheia de imprevistos.

Como sabem foi anteriormente decidido, que o nosso Encontro Anual, se realizaria de preferência sempre num sábado anterior, ou posterior ao dia 8 de Maio, data da nossa partida no Paquete Uíge, para a então Província Ultramarina de Angola.

Em tempo informamos todos os combatentes, familiares e amigos da nossa Companhia, que o Encontro/Convívio deste ano, já previsto e programado para hoje dia 9 de Maio, não se realizaria, dada a grave situação que o nosso país está a atravessar.

Informamos, ainda, que se oficialmente a situação pandémica não se alterar, de modo a permitir a sua realização, este nosso encontro anual só terá lugar em Maio de 2021, em moldes ainda a estabelecer. Ainda, recordámos o que ficou combinado em 2019 no Encontro do Batalhão na Anadia, que este se voltaria a encontrar em 2021, para a comemoração do 50º. Aniversário, do nosso regresso da então Província Ultramarina de Angola.

Como para já a realização deste encontro não é praticável e sendo costume no início do evento mencionarmos os nomes dos camaradas de armas falecidos, de que temos conhecimento, seguido de um minuto de silêncio, já que pessoalmente não é possível, propomos recordá-los, visitando a página no blogue IN MEMORIAM e prestando-lhes assim, uma singela homenagem de camaradagem. Aqui fica também o nosso mais profundo pesar aos seus familiares e amigos.

Até ao nosso próximo Encontro Anual e como militares que fomos, manteremos a nossa segurança e a dos outros, cumprindo como sempre as ordens, que os órgãos de soberania do país decidirem. Estou certo que vamos agora, sem “conquistar corações, vencer a luta.

Texto: João Merca

sexta-feira, 8 de maio de 2020

ANIVERSÁRIO PARTIDA ANGOLA

-NOTÍCIA-
O dia de hoje não pode ser esquecido pelos combatentes, familiares e amigos da nossa Companhia, assim como, também, os das companhias irmãs, que constituíram o Batalhão de Caçadores 2872. Foi a 8 de Maio de 1969, que o Batalhão embarcou no Paquete Uíge, para a então Província Ultramarina de Angola.

Não sei por que motivo, mas não estava com o Batalhão na partida de Santa Margarida. Esta data por mais dois meses coincidia com a data do meu vigésimo terceiro aniversário. Se ainda me recordo, saí de casa em Lisboa, ainda noite e cheguei ao Cais da Rocha pelas 06H00 para me juntar á minha Companhia, que chegou de comboio uma, ou duas horas mais tarde. Houve uma formatura geral e revista já não sei por quem. Após embarque de diverso material e distribuição de todo o pessoal pelo navio, zarpamos do Cais da Rocha, com destino a Luanda, mais ou menos pelas 12H00. A viagem durou 13 dias e foi mais demorada, pelo facto de o navio por avaria, não conseguir atingir a velocidade normal.
Ao recordar esta efeméride, que faz hoje precisamente 51 anos, não posso deixar de lembrar todos os camaradas de armas que já nos deixaram, combatentes da Companhia de Caçadores 2505, assim como das outras companhias do Batalhão de Caçadores 2872. Aqui, deixo também o meu mais profundo pesar às famílias e amigos. Que descansem em paz e até um dia.
Texto: João Merca
Fotos: A Silva e A Brandão

segunda-feira, 4 de maio de 2020

PATRULHA MOLHADA NO CAZENGA

-TESTEMUNHO-
A situação que vou testemunhar passou-se comigo e por ser tão caricata, até parece uma anedota. Vou descreve-la aqui, porque prometi faze-lo a alguns camaradas de armas. Naquele tempo, por vezes aconteciam coisas, completamente fora do que seria previsível acontecer na vida militar.

A nossa Companhia, após regresso da Operação Grande Salto, nos Dembos, já sob o comando do Batalhão, passou a prestar proteção à cidade de Luanda. Na Rede, entre outras missões, efetuávamos o patrulhamento a quase tudo que se situava entre o “arame farpado “e a área de intervenção das outras polícias, tais como a PSP, PM e PA. Esse patrulhamento incluía o Bairro do Cazenga, de considerável dimensão onde se encontrava de tudo. Ao longo das ruas não alcatroadas, erguiam-se casas térreas de melhor ou pior construção. A sua população era muito heterogénea e distribuía-se por locais de prostituição, locais onde residiam famílias que praticamente só pernoitavam, após o seu dia de trabalho na cidade e alguns locais comerciais. Tenho até conhecimento de vários militares que também ali residiam.





Decorria o mês de Janeiro e o dia começava como sempre com muito sol. As Companhias formadas e ao toque assistíamos ao hastear da Bandeira. Acabava de sair de serviço à Rede Periférica e já estava escalado com o meu pessoal para os referidos patrulhamentos. O dia corria muito bem com visitas a outros bairros, às transmissões, aeroporto etc., mas as mais apetecidas, em especial à tarde, eram as efetuadas à Cuca e Nocal, onde havia cerveja à disposição

A noite já ia alta e estávamos encetando, agora, o patrulhamento nas ruas do Cazenga e solicitando a identificação a um ou outro transeunte, acabámos por estacionar num pequeno largo, onde também existia uma árvore. Uma das ruas à nossa frente, era um local de prostituição e não me recordando, devia ser fim-de-semana dada a quantidade de pessoas que circulavam. Estacionados, uns sentados na viatura, outros apeados apreciávamos o ambiente. Este local, também era frequentado por alguns militares, uns uniformizados, outros à civil. Não sei já quem fazia parte da patrulha, mas os condutores, como era hábito poderiam ser o Gil, Proença ou o Mingachos, infelizmente já falecido. Passado algum tempo, decidi efetuar mais umas identificações, quando aconteceu um raro imprevisto.


Ao entrar no largo, um individuo apercebendo-se que estávamos ali, apressadamente dirigiu-se para a citada rua. Não obtendo resposta ao nosso chamamento e continuando a previsível fuga, iniciámos a perseguição. Seguíamos junto às casas e de repente, quase no início dessa rua abriu-se uma janela e quando me virei, levei com a água de um alguidar na  cara e no tronco. Se fosse um tiro, a minha vida acabava ali. Fiquei furibundo, berrando e exclamando impropérios, instintivamente empunhei a walther e arranquei para a porta, quase chocando com um individuo, que saia a correr ainda a apertar as calças.

Entrei de rompante pela casa dentro, onde deparei com uma mulher nua e de alguidar na mão. Gritei, berrei e nem sei o que me passou pela cabeça. Tive a intenção de a levar à PSP, para um raspanete, mas desisti dado que a mulher já tremia por todo o lado. Não faço ideia qual seria a minha expressão, mas a pessoa em causa pedia-me muitas, muitas desculpas e até me queria lavar o dólmen do camuflado e sei lá mais o quê. Subentende-se qual teria sido a utilização daquela água. Sem esgotos a água de todas as lavagens era atirada para a rua. Lembrei o Centro de Operações Especiais e a minha passagem pelos esgotos da cidade de Lamego. Afinal havia uma razão para esse exercício. Lembrei que tinha perdido qualquer tipo de nojo. Abandonada a perseguição e dado a patrulha ainda não ter acabado, somente lavei a cara e prometi a mim mesmo nunca mais passar apeado naquela rua, assim como, ao pessoal que me acompanhava, dado o risinho que ostentavam, uns servicinhos mais pesados, se a boa disposição não passasse.
Mais tarde e ainda hoje até dá para rir, mas naquela altura confesso que me apeteceu esganar a mulher.
João Merca
Fotos: João Merca e Manuel Pimenta
Obs: A foto do grupo é de outra patrulha.