sábado, 10 de março de 2012

O FITTIPALDI DO DANGE

O Furriel Brito tentava convencer o Pixad’aço, (alcunha do condutor da 504), insistia até, pois queria aprender a conduzir. Um dia o condutor acedeu, porque no meio da picada onde estávamos, numa zona tão larga como aquela, não devia haver perigo. Umas voltas para a direita, outras para a esquerda, marcha-atrás e marcha á frente, e eis que o Algarvio se convence ser, quem sabe, um Emerson Fittipaldi.

Dois dias depois, estava agendada uma ida a Quibaxe para fazer o reabastecimento. Calhou mesmo bem para não esquecer tudo o que assimilou. No reabastecimento anterior, uma vez mais tomamos conhecimento de que o soldado Tavares além de bom no fandango, no trabalho, era exímio no safanço. Segundo informações, depois da distribuição das tarefas, poucos minutos após, deixava para os colegas a tarefa de carregar as Berliets. O Brito e eu combinamos, que este amigo teria desta vez, o privilégio de carregar sozinho o camião. Quanto mais rápido o fizesse, mais rápido ia passear. Pelos vistos, não recebeu a punição de bom grado, pois reparei que as grades de cerveja saltavam, porque, zangado, corria com o carrinho de mão carregado, direito á viatura galgando o enorme desnível existente entre o cais e o camião ainda vazio. Afinal até demorou pouco, e pode divertir-se de consciência tranquila.

Chegou a hora do regresso. Equipados a rigor, e com a atenção redobrada no local a que muitos chamavam “a figueira” onde sofremos um ataque, mais uma vez, “lindos, porcos e bons” chegamos sãos e salvos ao Dange. Não sei porquê, mas o meu pelotão destacava-se da restante Companhia e da Engenharia não por sermos melhores nem piores, mas porque sozinhos, residíamos no lado de lá do rio, na outra margem. Mesmo antes de atravessar a ponte e ansiosos por um reconfortante banho, todo o mundo entrava na água, excepto como era já habitual, um mínimo de soldados para descarregar os cunhetes dos morteiros da bazuca, e os das balas da G3. De imediato constou que o condutor era o Brito mas eu não acreditei. Desviei-me para o lado por causa de uma árvore que me tapava a visão, e prestei redobrada atenção. Quase em uníssono dissemos: É pá! O gajo é maluco. Não tardou muito para ver surgir do nada, um Unimog com uma pessoa montada, e quando os dois já no ar em queda livre, estavam abaixo do nível do solo, o Brito em desespero, formou um salto enorme ficando em desequilíbrio lá no cimo rodando os braços, enquanto que o carro se espatifava, a cerca de 30 metros abaixo.




Que acontecera? O Brito “sem Eu saber como” até lá foi bem, o mal foi resolver fazer a inversão de marcha no cimo do socalco (local onde residíamos). Para um veterano era difícil, mas para o marafado era bife. Pelos visto quando recuou, meteu as rodas traseiras do Unimog na vala de escoamento das águas. Três pedais e só dois pés. Como fazer? Resolveu então meter o acelerador de mão ao fundo, e quando largou a embraiagem, sem saber como, o maldito saltou.

M Pimenta

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