segunda-feira, 27 de agosto de 2018

JORGE HUMBERTO: ESTUDANTE, FUTEBOLISTA, MÉDICO E MILITAR

-TESTEMUNHO-

JORGE HUMBERTO PERTENCEU À FAMÍLIA DO BATALHÃO DE CAÇADORES 2872, QUE CUMPRIU O SERVIÇO MILITAR EM ANGOLA 
DE MAIO DE 1969 A JUNHO DE 1971
JORGE HUMBERTO

Jorge Humberto teve, no entanto, a sua maior visibilidade, primeiro como jogador da Associação Académica de Coimbra, onde jogou por duas ocasiões, aos 17 anos vindo do Mindelo, ilha de S. Vicente, Cabo Verde, onde nasceu a 17 de fevereiro de 1938, tendo protagonizado um acontecimento, impensável para a época, a transferência para um colosso italiano, o Inter de Milão.

Tempos de infância e juventude

Jorge Humberto Gomes Nobre de Morais, fez os estudos do ensino primário e concluiu o ensino secundário no Liceu Gil Eanes, no Mindelo. Antes de rumar a Portugal, aos 17 anos, para vestir as cores da Académica de Coimbra, ainda representou, em Cabo Verde, a Académica do Mindelo, 7ª filial da "Briosa".

Primeiros tempos em Coimbra

Em outubro de 1955, foi o ano em que veio para Portugal para estudar na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Ao mesmo tempo e por orientação do mestre Cândido de Oliveira, treinador da equipa principal, prosseguiu a sua carreira de futebolista nos juniores. Estreou-se contra o União de Coimbra, jogo que a equipa academista venceu por 3 bolas sem resposta, com hattrick do Mindelense. Não podia ter corrido melhor a estreia.
Em 1956, no jogo contra o Olhanense, por ocasião da Tarde Desportiva da Queima das Fitas, Cândido de Oliveira decidiu dar-lhe a oportunidade de se estrear na equipa principal. Jogo marcada por um lesão, quase no fim do jogo, que o retirou dos campos durante 3 meses. Cumpriu ao serviço da equipa academista 5 épocas, até 1961.


EQUIPA DA ACADÉMICA

Transferência para o Cálcio de Itália

Em 1961, estava no último ano de medicina, até aí tinha resistido à tentação de se tornar profissional de futebol, mas uma proposta tentadora levou-o a assinar pelo Inter de Milão, tornando-se no segundo jogador, com nacionalidade portuguesa, a jogar no estrangeiro. Em Itália as coisas complicaram-se, porque a lei italiana só permitia a inscrição de dois estrangeiros, ora a equipa italiana já tinha preenchido esse requisito com o inglês Hitchens e por Suarez, o craque de nacionalidade espanhola.

Este problema foi resolvido com uma "estória" que levou à aquisição da nacionalidade italiana, essa história contada num artigo de "A Bola":
"Um jornalista espanhol de A «Marca» escreveria, divertidíssimo, que Helénio Herrera se havia debruçado sobre a árvore genealógica de Jorge Humberto, descobrindo que o jogador era oriundo de emigrantes italianos, clandestinamente saídos de Itália, em data imprecisa, para se radicarem em Portugal. Afinal, a mentira tinha outro engenho. E no dia 25 de Agosto de 1961, Jorge Humberto Gomes passou a cidadão italiano, com o nome de Giorgio Raggi, filho natural de Vittorio Raggi, de 74 anos de idade, que declarou, sob juramento, ter conhecido a mãe de Jorge Humberto, em Cabo Verde. A Giorgio Raggi foi passada a certidão de idade 1865/56-15, que confirmava o nascimento de Jorge Humberto em Cormas de Barlavento, Cabo Verde, a 17 de Fevereiro de 1939, na Rua dos Descobrimentos, filho de pai incógnito e de Maria Antónia Gomes, 28 anos de idade, solteira e doméstica."  Ver artigo de "A Bola" em:  http://www.abola.pt/publica/50anos

Na sua passagem por Itália, onde atuou de 1961 a 1964, também representou as equipas do Lanerossi e do Vicenza.

AQUI COM HELÉNIO HERRERA AO MEIO

Regresso a Coimbra e à Académica

O regresso a Coimbra ocorreu em 1964, voltando a jogar na Académica até ser obrigado a ir prestar serviço militar em 1968. Foi um período decisivo na sua vida, durante o qual finalmente conclui o curso de Medicina, em 1966. Nesse ano, em 20 de fevereiro termina a sua ligação à Briosa como jogador num jogo em casa mas em que o resultado foi o menos importante.

Conciliar os estudos com o futebol

Extrato da entrevista ao Jornal Record:
"Sempre fiz as duas coisas e, mesmo nas três épocas em Itália, fiz uma cadeira por ano. Matriculei-me na Universidade de Milão onde fiz uma e, quando fui para o Vicenza matriculei-me na de Pádua, onde fiz mais duas. Sempre quis manter vivos os estudos porque a carreira de futebolista não dava para fazer o que fazia em Coimbra. Quando voltei à Académica, em 1964, completei o que deixara para trás, pois rumei a Itália com o quinto ano de Medicina incompleto. Fui conciliando Medicina e futebol. Só após a lesão que me matou a carreira me voltei para a outra via."

Serviço militar em Angola no Batalhão de Caçadores 2872

Termina o curso de medicina em 1966 no mesmo ano em que terminou a carreira de futebolista, 3 anos depois foi chamado para cumprir o serviço militar.

Como todo o Batalhão embarcou, no Paquete Uíge, a 8 de maio de 1969, como alferes miliciano médico. Chegado a Luanda foi colocado no Hospital Militar desta cidade, onde passou a residir. Com a transferência do Batalhão para o Leste de Angola, Jorge Humberto, acompanhou os camaradas militares desta unidade, ficando na sede do Batalhão no Lucusse, regressando a Portugal a bordo do paquete Vera Cruz, em junho de1971.

'O tempo que passou em Angola serviu também para ganhar prática médica. "Fiz aquilo que era possível ser feito", admite Jorge Humberto, descrevendo vários casos de ferimentos graves ou partos que teve de ajudar a realizar. Quando regressa a Coimbra, em 1971, dedica-se à especialidade. Acaba por escolher Pediatria: "Aquela que eu sempre quis." Termina-a em 1975. "Depois tive a sorte de, terminada a especialidade, passados dois anos, abrir o Hospital Pediátrico [de Coimbra]."'

Homenagem prestada pela Associação Académica de Coimbra

A direção Geral da Associação Académica de Coimbra e a Associação Académica de Coimbra/OAF, com o apoio  do Núcleo de Veteranos, promoveu uma homenagem ao Dr. Jorge Humberto, antigo jogador da Académica dos anos sessenta, durante o jogo Académica com o Vitória de Guimarães,  que se realizou no dia 25 de janeiro de 2009, num jogo que a equipa da casa venceu por 2-1. O antigo craque que tem uma placa comemorativa no antigo campo de Santa Cruz e foi alvo de uma grande ovação no intervalo da partida.

JORGE HUMBERTO, ACOMPANHADO POR PINTO FERREIRA 
E ADELINO BRANDÃO, AMBOS DO B CAÇ 2872 

JORGE HUMBERTO E PINTO FERREIRA

O pediatra de Macau Jorge Humberto, o primeiro português a atuar no campeonato italiano, já havia sido homenageado pela casa de Portugal em Macau, durante o jantar de Natal, quando recebeu duas simbólicas botas de ouro - uma em tamanho real, e outra mais pequena, referência às crianças que tratou durante todos estes anos.

FADVOCAL_ Um breve apontamento musical na homenagem a JORGE HUMBERTO

No dia 18 de Junho de 2009, realizou-se um Jantar-Tertúlia na Casa da Académica em Lisboa para homenagear Jorge Humberto. O Fadvocal associou-se a esta iniciativa e marcou presença.

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Um agradecimento especial ao camarada ex-furriel miliciano da CCS - Companhia de Comandos e Serviços, do Batalhão de Caçadores 2872, que facultou alguns textos de pesquisa e as fotos.

Fontes:
Público:https://www.publico.pt/2011/07/17/jornal/o-telefonema-que-mudou-a-vida-de-jorge-humberto-22450006
CMJornal: http://www.cmjornal.pt/desporto/detalhe/academica-da-vitoria-a-jorge-humberto.
Record: http://www.record.pt/futebol/futebol-nacional/2--liga/academica/detalhe/brioso-jorge-humberto-trocou-a-bola-pelas-criancas.html

F. Santos - Memórias de Angola
20 de fevereiro de 2018

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