sábado, 20 de julho de 2013

O REGRESSO DO VAGOMESTRE

-TESTEMUNHO-
Incidente que poderia ter comprometido o regresso do Vagomestre
MUTAMBA 1970
O Largo da Mutamba, Praça de onde saíam e chegavam todos os transportes de passageiros que serviam a cidade de Luanda, situava-se no centro da cidade.
Nesse Largo, todos os dias, um polícia sinaleiro em cima dum palanco, dirigia o trânsito que circulava naquele local, e, protegia-se do sol que se fazia sentir nas tórridas tardes africanas, com um sombreiro enorme.
SINALEIRO NA MUTAMBA SEM SOMBREIRO, O SOL ESTAVA A NASCENTE...
A troca de funções operada no Dange não tinha dado os resultados esperados e fracassou. Tínhamos regressado às antigas funções de vagomestre, e foi nessas funções que nos deslocámos à Manutenção Militar, para requisitar mantimentos, para alimentar os efetivos da CCaç. 2505, que iriam atuar durante cerca dum mês, em Nambuangongo, como companhia de intervenção.
Possuíamos livres trânsitos para frequentar os salões das fábricas de cerveja da Cuca e Nocal, benesse derivada das funções que agora desempenhávamos, e, no usufruto dessas facilidades, não nos contentamos em visitar apenas uma, mas sim as duas, já que o consumo era oferta da casa e não tinha limite. Depois de bem aviados, com grandes doses de líquido ingeridas, saímos e ocupamos os nossos lugares na Berliet, transporte que utilizávamos para nos deslocarmos e transportar os mantimentos. 
BERLIET: VIATURA DE TRANSPORTE MILITAR NA GUERRA COLONIAL
Não sei porquê, em má hora, decidimos fazer um raide pela baixa de Luanda. Ao passarmos pela Mutamba, porque o sombreiro do sinaleiro estava virado a poente para tapar o sol, inclinado para dentro da estrada onde seguíamos, mas também porque o retrovisor da Berliet estava um pouco saído, ou ainda porque o condutor não conseguiu medir bem distância a que se encontrava do sombreiro, certamente por não se ter poupado no consumo do precioso liquido, com a visão um pouco toldada, não conseguiu evitar a colisão violenta do retrovisor contra o sombreiro, em consequência de tudo isto, o sinaleiro rodopiou em cima do palanco, estatelando-se no chão.
ATRÁS, DA ESQUERDA PARA A DIREITA, GABRIEL
FEIJÓ E F SANTOS, EM BAIXO, LOURENÇO

Nasceu aqui uma grande complicação, principalmente, para o regressado vagomestre, que chefiava esta missão: porque o polícia, que era angolano, dizia que o tínhamos atingido de propósito; que o queríamos matar. Depois de muito dialogarmos, acabamos por convencer o homem que tinha sido apenas um acidente e 
despedimo-nos amigavelmente.

Foi assim que ficou resolvido este incidente, que poderia ter comprometido o regresso do vagomestre às suas funções.
Texto: F. Santos

 

3 comentários:

  1. Transcrevemos na íntegra, como comentário, o texto que acompanhou o testemunho do autor:

    Olá amigo!

    Estou a enviar-te mais um episódio atribulado do teu amigo

    Foi um episódio tão complicado na altura, talvez por isso, apenas me foquei nos acontecimentos, tendo esquecido por completo dos restantes protagonistas.

    Era bom que alguém se recordasse deste episódio e comentasse...

    Um abraço amigo!

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  2. Pois meu Caro!
    Convivemos bastante, principalmente no Lungué Bungo, mas não me lembro que me tenhas contado este episódio. Gostava de na altura estar presente.Pessoal com a "copaneira", cheios de Cucas e Nocais, com a voz muito lenta e arrastada, a tentar acalmar o muito desconfiado sinaleiro.
    A cena do palanco a rodopiar, depois do encosto da berliet, o sinaleiro a ser cuspido, até me fez lembrar, uma antiga animação, só que desta vez o " Tomy and Jerry" não puderam fugir.
    Abraço

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  3. Este é um testemunho de 1970, onde se vê que a Guerra Colonial não tinha só coisas más, se fossemos civis tínhamos ido parar ao Governo Civil..., assim conseguimos sair sem grandes complicações, dado a nossa condição de superior em relação ao sinaleiro. O comando militar nunca ficou ao corrente destas e de outras situações.
    Vou referir-me aqui ao comentário anterior:
    Cito o companheiro e amigo Merca "Convivemos bastante, principalmente no Lungué Bungo, mas não me lembro que me tenhas contado este episódio...", nessa altura estavamos de partida para Nambuangongo e tivemos durante a nossa permanência naquele local acontecimentos trágigos, depois foste de férias quando estivemos, durante pouco tempo, no Zenza... de seguida rumamos ao Leste. Aí como sabes houve outros problemas maiores, provavelmente os temas das conversas tenham sido outros.
    Este também foi um assunto que ficou encerrado no próprio dia quando regressamos ao Grafanil.
    Um abraço com muita amizade!
    FS.

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