sexta-feira, 23 de maio de 2014

II - JUNÇÃO AO BATALHÃO

-FARDA OU FARDO?-
Em meados de março recebo Guia de Marcha para a minha Unidade Mobilizadora – Regimento de Infantaria 2, em Abrantes. Apresento-me ao Oficial-de-Dia, que me encaminha para a Secretaria. Recebo de imediato Nova Guia de Marcha para me apresentar no dia seguinte no CIM (Campo de Instrução Militar) de Santa Margarida, próximo do Tramagal – localidade onde eram montadas as Berliets militares – para me reunir à minha nova família militar: Companhia de Caçadores 2506 do Batalhão de Caçadores 2872, cujo lema é CONQUISTANDO OS CORAÇÕES SE VENCE A LUTA. Apresento-me ao Capitão Santana, que me ordena para me dirigir à Secretaria da Companhia, onde vou encontrar o que viria a ser um grande amigo, lº Sargento Vilares, que atingiu a patente de Capitão, provindo de Soldado, tal a sua capacidade intrínseca, demonstrada pelos livros que já publicou, quer em prosa quer, e principalmente, em verso poético, de caráter genérico e épico. Sou apresentado também a todos os restantes Graduados e às Praças cujas caras e nomes me iriam ser tão familiares durante quase 26 meses.

C I M DE SANTA MARGARIDA
MORGADO, CARDOSO-2505, MINEIRO,
AUTOR, GLÓRIA E JOÃO SILVA












Nova situação, nova vida. Necessários ajustamentos. Santa Margarida, para além de outros poucos locais no país, era o Campo Militar por excelência onde se fazia o denominado I.A.O. – Instrução e Aperfeiçoamento Operacional –, atendendo às caraterísticas do terreno, que era (é) propício à criação duma ambiência similar ao teatro de operações que iríamos enfrentar em África. Seis semanas consecutivas de treino intensivo, intervaladas apenas com alguns fins-de-semana, que eram aproveitados para descanso e visita à família e namorada. Rotina desgastante. Mas eis que chega a informação da data do embarque: 8 de maio, no navio Uíge. Tensão aumentando gradualmente, face à despedida inevitável. A minha namorada é informada e todos os meus familiares também, com exceção do meu pai. No último fim-de-semana regresso a Santa Margarida, despedindo-me dele com um beijo, aparentemente normal, e um “até sábado!”. Foram muito difíceis aqueles momentos, para todos nós que sabíamos. Mas … tinha que ser.

Apanho o comboio em Campanhã, passo a velhinha Ponte D. Maria, olho para a minha linda cidade, que vista de Vila Nova de Gaia ainda é mais encantadora, e questiono-me: “será que vou voltar a ver o Porto?”. Muita tropa no comboio, de regresso aos quartéis, como era normal naquela época, no fim do fim-de-semana. Porém, talvez só eu me encontrasse naquela situação especial … que tinha que controlar.

Carlos Jorge Mota

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